Esta
avaliação é parcial, é do lugar que ocupo, a partir da caminhada histórica que
consegui fazer nos últimos anos.
Durante
8 anos atuei como dirigente sindical no município de Betim sob a gestão dos
partidos de direita da cidade. O sindicato não mediu esforços para denunciar,
criticar, fiscalizar a administração. Foram inúmeras representações no
Ministério Público, Ministério da Previdência Social. Incontáveis também foram
as manifestações, as mais emblemáticas quando lavamos a escadaria da Prefeitura
em sinal de protesto contra a terceirização do setor de Agente de Serviço
Escolar e quando saímos pelas ruas empurrando um carrinho de supermercado cheio
de pepinos e abacaxis, simbolizando o que estava acontecendo com a educação
municipal.
A
imprensa, na grande maioria das vezes, foi silenciosa e muito pouco se falou
dos problemas. Não tínhamos limites para enfrentar o Poder constituído na
cidade e chegamos ao cúmulo de parar com o próprio corpo um carro de som que
saiu pela cidade depreciando a categoria e o sindicato. Tivemos uma atuação
para além da função de um sindicato corporativo, atuamos na política cotidiana
da cidade. Nos consolidamos com importante atuação nos conselhos de controle
social.
Acumulamos
conquistas: salarial, de carreira, de valorização da habilitação, manutenção de
direitos, a criação do nosso Instituto de Previdência, a realização de
concursos públicos, a organização da categoria, a regulamentação da flexibilização
de jornada. Resistimos e impedimos a organização de uma avaliação de desempenho
punitiva, a terceirização do setor de Agente de Serviço Escolar, a retirada de
direitos.
Este
projeto de administração para o município se desgastou e em 2008, o sentimento
de parte significativa dos profissionais da educação era de uma mudança, de uma
renovação. Por isso muitos estavam nas carreatas, nas agendas de campanha dos
bairros, nas panfletagens, se engajaram de alguma forma. Não eram filiados a
nenhum partido político, mas tinham a esperança da mudança, de um projeto
melhor para a cidade e para a educação. Este projeto foi vitorioso.
O
primeiro ano da nova administração foi marcado por muita turbulência e por uma
campanha salarial difícil. Mas a partir do segundo ano as ações da
administração passaram longe do que foi apresentado durante as eleições e a
prática, longe de ser um projeto para a classe trabalhadora.
A situação mais alarmante é a vivenciada pelos
educadores e educadoras da educação infantil municipal. O sindicato procurou
conhecer esta realidade e dialogar com a Prefeitura no sentido de resolver os
problemas. Mas a Prefeitura optou por ignorar o espaço do diálogo e da
negociação. Embora o Sind-UTE Subsede Betim tenha protocolado a pauta de
reivindicações da educação infantil em 03 de janeiro de 2012, não há negociação
para nenhum ponto. Acompanhe abaixo os principais problemas:
1)
Ausência de carreira: o cargo de
educador infantil foi criado em 2009. Mas a carreira, elemento intrínseco a
qualquer cargo público proveniente de concurso público, não existe.
2)
Não pagamento do Piso Salarial
Profissional Nacional: as educadoras infantis têm uma jornada de 40 horas
semanais e um vencimento básico de R$1.024,00. Este valor é inferior ao Piso
Salarial definido pela Lei Federal 11. 738/08. A Prefeitura de Betim não cumpre
a lei federal.
3) Jornada: Não há organização da jornada para planejamento,
embora as educadoras infantis tenham que apresentar caderno de planejamento,
desenvolver projetos, dar conta de diários, conciliando toda parte pedagógica
com o cuidar.
4) As condições de trabalho nos
Centros Infantis Municipais (CIM)
Há
Centro Infantil onde a sala de professores é um banheiro desativado ou
depósito. Não há material pedagógico fornecido pela Prefeitura
Recentemente
um Centro Infantil enfrentou uma infestação de ratos, sem nenhuma medida da
Prefeitura. Embora vários Centros tenham feito reformas ou pintura do espaço,
crianças e educadoras foram obrigadas a conviver com a situação de poeira e
tinta.
Alguns
Centros Infantis funcionam em casas alugadas, mas o pagamento do aluguel chega
a atrasar 6 meses. As direções também sublocam o espaço para eventos
particulares.
Há
CIM que cobra taxa dos pais. As reuniões com os pais para discussão de
questões pedagógicas são realizadas sem a participação das educadoras infantis.
Crianças chegam a dormir no chão
por falta de colchonete.
Faltam instalações sanitárias
adequadas para a idade das crianças (a pia é muito alta e o vaso sanitário é
muito grande e alto.
A sala de aula, em alguns
Centros, não comporta todas as crianças e é adotado um sistema de rodizio no
pátio. Além disso, falta mobiliário adequado para atender bebes.
Diante desta realidade e da
ausência de um processo de negociação, as educadoras infantis decidiram por
iniciar uma greve a partir do dia 30 de maio. A Prefeitura foi notificada com
prazo maior do que o determinado pela legislação. Com isso, ela tem a
oportunidade de reabrir a negociação e evitar a continuidade da greve, uma vez
que haverá nova assembleia no dia 30/05. Mas até agora a Secretaria Municipal
de Educação optou por não abrir negociação e tentar impedir o início da greve
com ameaças de retaliação.
O melhor caminho é o do diálogo e
da negociação. As atuais condições da educação infantil no município precisam
mudar. Ignorar o movimento ou usar de intimidações não é o caminho para
resolver o conflito.
Um comentário:
Obrigada pela atenção. Vivemos situações árduas diariamente...
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