Este ano, como não paramos o trânsito as 17 horas de uma quarta-feira no centro de BH, ou a MG 10, ou a BR 381, os grandes meios de comunicação nada (ou muito pouco) falam sobre a educação pública e os problemas enfrentados pelos profissionais da educação.
O direito à uma educação pública e de qualidade para toda a infância e juventude tornou-se algo irrelavante na pauta dos grandes jornais.
Mas persistimos e continuamos...
Neste dia 15, publico artigo gentilmente cedido pela professora Nirce. Ele foi publicado em 2000. Mas, ao lê-lo, você terá a certeza da sua atualidade.
“... Maior do que a violência do desemprego é a do emprego cujo salário
degrada a profissão...”
O valor do salário de um
profissional corresponde à importância atribuída ao produto de seu trabalho,
princípio que apoia as decisões de índice salarial do funcionário público. Este
texto se restringirá ao paralelo de natureza político-social entre o recente
aumento da polícia militar e do magistério estadual. O povo clama por
segurança. Verdade de um lado, do outro artifício para justificar a diferença
já maior pró militares. Nesta lógica de diferenciação, tal discrepância
desaparece visto que o combate à marginalidade, distante de sua gênese e dos
meios de prevenção, acarreta seu aumento em proporção superior à polêmica
diferença.
Sem o imediato de conter a
violência com estratégias que a reprimem e punem, a educação perde espaço no
trato da problemática de segurança. A universalização e a democratização do
ensino caminham para o desenvolvimento e a segurança através de medidas
preventivas da exclusão, fonte primária da violência. A Constituição imprime
caráter inclusivo à educação pela finalidade que lhe prescreve: “o pleno
desenvolvimento da pessoa para o exercício da cidadania e sua qualificação para
o trabalho”. Como preparar um cidadão, com um mestre anti-cidadão? Pela Carta
Magna o trabalhador tem direito ao salário “compatível com a complexidade e a responsabilidade
das tarefas e a escolaridade exigida para seu desempenho”. Na realidade ele
sequer reflete a grandeza do magistério. Sem condições de atender às
necessidades vitais básicas, o professor perde a garantia de vida cidadã. Benefícios concedidos aos militares, como
escola própria de gratuidade garantida para o necessário à escolarização de
seus filhos transporte, trajes e material de serviço, não se estendem ao
professor. Maior do que a violência de desemprego é a do emprego cujo salário
degrada a profissão e mascara o direito de quem a exerce.
O magistério é profissão aviltada
pelo salário. Sua remuneração cobre apenas a jornada de 4h30min, do professor
na escola. Resta-lhe apenas exercer o papel de tarefeiro, na triste condição de
“babá barata de criança pobre”, nos estreitos limites do horário presencial em
classe. Oficializa-se o improviso nas aulas. Comprometendo a democratização da
escola pública, expropriada, assim, de sua função social e política. É para esta escola celetista e discriminatória
de baixa qualidade que o “cidadão” paga impostos? O professor faz de conta que
ensina o aluno que aprende o Estado que cumpre seu dever constitucional. Como
exigir do trabalhador em educação melhor desempenho, sem espaços pedagógicos?
Para o antes e o depois quando realiza atividades em igual tempo fora da
escola? A política salarial lhe furta o direito de pensar criticamente sua
prática até porque pensar, além de tudo aponta para várias alternativas. Isto
incomoda. Programar, atualizar, aperfeiçoar custa tempo e dinheiro. Fatos
“verídicos” nos passam esta lição. Num, professora e empregada negociam aumento
salarial. A mestra considera justo o solicitado, porém seu caixa e salário não
comportam mais despesas. Conceder significaria por ela, professora, estaria
pagando para trabalhar. A doméstica se contrapõe: “por menos, não fico. Eu
valoro meu serviço à senhora é que não valora o seu”. Noutro, professora e
cozinheira acertam o serviço salário: preparo das refeições, limpeza dos
ambientes e vasilhames. E o salário? Depende, diz empregada. As tarefas estão
claras, por que o “depende”? “Simples”, responde a cozinheira, “se a senhora
programar “o que” e “o como” vou preparar as refeições é um preço. Agora, se eu
tiver de pensar “no que” e “no como” farei a comida, o preço é outro”. Pensar
dá trabalho, toma tempo e custa dinheiro.
Mestre pensante, de há muito,
descartado. O governo afirma que os professores recebem os melhores salários.
Para quem e para que? Para os mestres,
com aumentos que não lhe preservam o poder aquisitivo? Para a sociedade, com
uma educação desqualificada, fruto da desvalorização do professor e do seu
papel? Melhores, sim para os carenciados de consciência cidadã. Aplaudem o
salario atual, com força de recurso sub-reptício e institucional no aumento das
fileiras do exército de analfabetos políticos. E sobre a miséria e a ignorância
dessa massa alienada, faturam seus votos rumo ao poder. Este círculo vicioso
alimenta a marginalidade. A decorrente violência apresenta índices alarmantes,
divulgados e explorados nos dados e na prática num clima neurótico de
terrorismo. No contexto dos meios de atendimento aos direitos individuais, com
intuito de prevenir a violência, qual a posição e a importância agregadas à
educação? Transpondo a barreira imposta
pela lógica da matemática financeira do Estado – que responde pela
diferenciação dos aumentos salariais, segundo gestores da rés-pública, surge o
que lhe é subjacente – o despojamento da educação do princípio constitucional
de “direito subjetivo”. Até porque, se assim o fosse, por coerência, não se
condicionaria a mínimos orçamentos, nem ao caixa do Estado.
Sob as cifras dos “reais” se
esconde a concepção filosófica e moral do homem e do mundo, que dimensionam o
verdadeiro significado social e político do salário. O produto da educação,
qual seja o preparo dos educadores para a cidadania, como construtores e
usufrutuários de uma sociedade mais humana justa e feliz é mera figura de
retórica. A ênfase se desloca do eixo formativo pelo desenvolvimento das
potencialidades humanizadoras do individuo, para o campo corretivo e punitivo.
É preciso cuidado e clareza com os ganhos presentes, dos quais decorrem perdas
futuras. A prudência indica, especialmente neste caso, para a sabedoria popular
– é melhor prevenir do que remediar.
Nirce S. M. Jabra Jamil
Professora e administradora
em Educação
Aluna e colaboradora da Professora Helena Antipoff
4 comentários:
Beatriz, parabéns pela escolha do texto. Atualíssimo e verdadeiro. Aproveito a oportunidade e peço a você esclarecimento sobre a instrução que orienta e esclarece sobre ferias- prêmio para quem está próximo da aposentadoria, uma vez que na resolução esta situação" estar próximo" não refere-se a quantidade exata. Aguardo esclarecimento, poi aposento em março de 2013 e este ano não consegui férias- prêmio.
cade as eleições do sind-ute.
Colega anônimo, o Estatuto do sindicato estabelece todos os prazos eleitorais. O sindicato já encaminhou as orientações e cronograma para as subsedes, mas vou postar o cronograma aqui.
Abraço
Rosangela, fizemos este questionamento à Seplag uma vez que a Resolução de fato não deixa isso claro. De acordo com a Fernanda Neves, a dinâmica é a seguinte: da data que você tenha completado os requisitos para aposentadoria subtraia os meses de férias- prêmio a que tenha direito. O resultado será a data a partir do qual vc tem direto de gozar as férias. A lógica do governo é que o servidor não retorne mais para a escola.
Espero ter esclarecido.
Abraço
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