sábado, 6 de outubro de 2012

O artigo que a Folha de São Paulo não publicou

O Jornal Folha de São Paulo publicou artigo do senador Aécio Neves analisando os resultados do IDEB em Minas Gerais. Como a avaliação do senador é muito diferente da realidade vivida pelas comunidades escolares e profissionais da educação, apresentei ao mesmo Jornal um artigo que apresentasse informações diferentes, afinal num Estado Democrático de Direito, o contraditório é sempre essencial nos meios de comunicação. No entanto, o Jornal retornou afirmando que, apesar da pertinência do artigo, não seria possível publicá-lo porque em função do julgamento do STF havia muitos textos para publicação.
 
Socializo aqui o artigo que também foi publicado no site da CNTE.

 
ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A EDUCAÇÃO EM MINAS GERAIS
 
No processo de ensino-aprendizagem, cotidianamente, realizamos atividades de avaliação para diagnosticar cada aluno, identificando as suas dificuldades e o que aprendeu para dar continuidade ao trabalho. Investimos em metodologias específicas para que ele supere as dificuldades e continue avançando.
 
Os mecanismos externos de avaliação da educação deveriam ser utilizados como instrumentos de diagnóstico para corrigir políticas e investimentos. No entanto, os resultados recentemente divulgados do Ideb cumpriram a função de marketing para vários governos. Sua divulgação já faz parte do calendário das campanhas publicitárias. Com esta prática, corremos o risco da população ter uma visão, muitas vezes, distorcida da realidade dos indicadores de qualidade da educação.
 
Este tem sido o comportamento do Governo de Minas, que tratou de utilizar os dados para dar a falsa idéia de que a educação mineira teria uma "fórmula de sucesso".
 
No entanto, ao realizar uma análise mais aprofundada dos dados divulgados pelo governo estadual, temos uma compreensão global da política educacional mineira, o que revela uma realidade preocupante.
 
A primeira questão que merece atenção diz respeito ao acesso à educação básica. Nem todas as crianças e adolescentes têm vaga garantida na rede pública. Um recente estudo do Dieese apurou que, em Minas Gerais, faltam cerca de 1 milhão de vagas no Ensino Médio. São empurrados para a rede privada, que cresceu cerca de 10 % nos últimos anos.
 
A educação Infantil é outra questão preocupante no Estado. Apenas 35% das crianças de 0 a 5 anos tiveram acesso a uma vaga na rede pública. O estado de Minas Gerais (aqui incluindo políticas municipais) investiu 0,28% do PIB neste nível de ensino.
 
De acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), apenas 30,7% dos estudantes da rede estadual encontram-se num estágio recomendável em leitura, 18,8% em nível recomendável em matemática e 25% em nível recomendável em ciências.
 
No que se refere à qualidade da educação, o estado de Minas Gerais tem resultado abaixo da média da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
 
De acordo com o Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI), a escolaridade média da população adulta mineira é de 6,9 anos. Ainda analisando os dados deste Plano, constatamos que 93,4% das crianças de 6 a 14 anos estão na escola, mas apenas 68% dos adolescentes de 16 anos conseguem concluí-lo, e somente 48,5% dos jovens de 19 anos também.
 
O nosso Estado, quando comparado à média nacional, tem a pior colocação em qualidade da escola de Ensino Médio: 96% das escolas não têm sala de leitura, 49% não têm quadra de esportes e 64% não têm laboratório de ciências. De acordo com o Censo Escolar 2010 as escolas estaduais mineiras do Ensino Fundamental apresentam uma estrutura de atendimento precária: 76% não possuem laboratório de ciências, 55% não possuem quadra de esporte e 11% não possuem biblioteca.
 
Uma visita a qualquer escola estadual mineira comprovará as condições de trabalho, carreira e salário dos profissionais da educação: são obrigados a assumir aula de disciplinas sem ter a formação correspondente. Há professores sendo obrigados a assumir a regência de até 8 disciplinas diferentes.
 
O professor não tem a garantia de 1/3 da sua jornada dedicada a estudo, planejamento e avaliação conforme definido pela lei federal 11.738/08, direitos, vantagens e férias-prêmio são ignorados, projetos são desenvolvidos sem qualquer interlocução com o profissional da educação, o tempo do professor é definido sem a sua participação, o currículo da escola é estabelecido por quem não está na escola, não há um referencial político- pedagógico.
 
Diferentemente do que afirmou o senador Aécio Neves em recente artigo publicado pelo Jornal Folha de São Paulo, o Governo de Minas não priorizou o que é prioritário. Inúmeros dados revelam uma realidade diferente da qual descreveu. É importante lembrar que desde o seu governo, não se cumpre o mínimo de investimento de 25% em educação e de 12% em saúde.
 

5 comentários:

Angela disse...

Boa noite Beatriz
Parabéns pelo artigo.
Em qual outro jornal você vai publicar este artigo???

Cristina disse...

Boa noite
Gostaria de saber se o sindicato esta tomando alguma providência com relação a perda salarial que tivemos ao optarmos pelo vencimento básico em 2011, no qual não houve nenhuma modificação.Sendo que depois nos foi imposto o modelo unificado a partir de 2012.

Anônimo disse...

Peça novamente para a folha de São Paulo publicar,pois um dia vão ter que publicar. Publique em outros jornais também mas deve ser publicado também na folha de São Paulo. Outra sugestão, Beatriz, é a respeito do projeto de 1/3 extra-classe. Tente publicar na folha de São Paulo a carta enviada aos professores e alunos falando que a implementação do tempo extra-classe seria este ano e junto com a carta uma pequena parte do projeto onde cita que a implementação será apenas no ano que vem, ou seja, 2013. Isso vai ajudar o povo entender como o governo faz propagandas enganosas pois o povo vai ver que na carta fala uma coisa e na prática foi feita uma outra coisa bem diferente. Precisamos desmascará-los. Publique isso na folha de São Paulo e em outros jornais, e também aqui em Minas.

Anônimo disse...

O pior de tudo isso é o excesso da carga horária de reuniões, pelas quais o governo diz pagar, o que é assustador, pois reduz ainda mais o valor da hora-aula. Além disso, a maioria dessas reuniões não acrescentam nada de produtivo ao trabalho do professor, só insistem em tentar incutir a política governamental para a educação. Lamentável!

Anônimo disse...

O pior de tudo isso é o excesso da carga horária de reuniões, pelas quais o governo diz pagar, o que é assustador, pois reduz ainda mais o valor da hora-aula. Além disso, a maioria dessas reuniões não acrescentam nada de produtivo ao trabalho do professor, só insistem em tentar incutir a política governamental para a educação. Lamentável!