Numa democracia, diversos grupos sociais têm opiniões
diferentes e se organizam para expressá-las. Nem todos concordam com as
políticas adotadas por Governos e por isso se manifestam, discordam,
argumentam.
Qualquer dia da semana que você visite Brasília encontrará
um grupo manifestando nas dependências do Congresso Nacional, outro em frente
ao Palácio do Governo, outro pelas ruas da cidade. Todos os dias há
manifestações em frente
a Casa Rosada, em Buenos Aires, na Praça das Armas, em Bogotá ou em tantos lugares públicos de países democráticos.
Mas em Minas Gerais quem pensa diferente do Governo do
Estado é tratado pelo aparato repressivo ou simplesmente é silenciado como
aconteceu nesse 21 de abril.
Nesta data, comemoramos o Dia de Tiradentes. Ele foi feito
símbolo para a República e associado aos ideais de liberdade e democracia. Cada
período da história precisa produzir seus heróis. E reverenciá-los constitui
ato cívico que, para ter legitimidade, precisa da participação do povo. Mas o
povo foi excluído das comemorações do “Dia de Tiradentes”. A solenidade
realizada em Ouro Preto foi exclusiva para o Governador e seus convidados. A
população foi proibida de circular pela cidade e de ter acesso à Praça, que é
pública. E os grupos sociais que lá estiveram foram mantidos longe para não
atrapalhar a festa.
Mas qual o sentido de uma festa feita pelo Governo que
exclui o povo? Os convidados não foram homenageados em nome do povo mineiro? Muitos
turistas visitaram a cidade na esperança de assistir a solenidade, mas foram
impedidos. O comércio no entorno da Praça foi proibido de funcionar durante a
solenidade. Os mais conservadores vão argumentar que tudo isso se justifica por
uma questão de segurança em função das autoridades presentes. Mas quem foi
eleito pelo voto direto precisa ter medo do povo? Somente quem esteve na cidade
e conversou com a população tem a exata dimensão do que aconteceu lá.
Além de excluir o povo, o Governo tratou como caso de polícia
quem ousou se manifestar durante a sua festa. O aparato repressivo presente na
cidade de Ouro Preto superou muitas regiões militarizadas do mundo. Nem o Poder
Legislativo Municipal escapou ao controle do Governo. No entorno da Praça as
sacadas foram enfeitadas com bandeiras de Minas, exceto as da Câmara Municipal,
onde foram colocados panos pretos em protesto. O Governo, antes da cerimônia,
retirou a manifestação contrária a ele.
Assistimos Tiradentes ser novamente esquartejado por um
Governo que tem medo do povo!